Indústria Brasileira Encerra o 3º Trimestre de 2025 com Sinais de Enfraquecimento

A indústria brasileira fechou o terceiro trimestre de 2025 com produção estagnada, aumento dos estoques e queda no emprego, segundo a CNI. Entenda os motivos e as expectativas para os próximos meses.

Indústria Brasileira Encerra o 3º Trimestre de 2025 com Sinais de Enfraquecimento
Foto: CNI/Divulgação

Panorama da Indústria Brasileira em 2025


A indústria nacional encerrou o terceiro trimestre de 2025 apresentando novos sinais de desaceleração. Dados da Sondagem Industrial, divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta segunda-feira (20), mostram que a produção ficou praticamente estável em setembro, enquanto os estoques aumentaram e o número de trabalhadores diminuiu.


De acordo com a CNI, a demanda interna mais fraca do que o esperado tem sido um dos principais fatores que explicam o desempenho abaixo das projeções dos empresários.


Produção Estagnada e Redução no Emprego


O índice de evolução da produção industrial registrou 50,1 pontos, próximo da linha divisória que indica estabilidade. Já o indicador de emprego caiu para 48,9 pontos, o que representa redução no número de postos de trabalho.


Esse resultado foge ao padrão histórico do mês de setembro, que desde 2020 vinha registrando crescimento na produção — com exceção de 2023.


Estoques em Alta e Demanda Abaixo do Esperado


Os estoques industriais cresceram acima do previsto. O índice de evolução de estoques atingiu 50,8 pontos, e o estoque efetivo em relação ao usual subiu para 50,7 pontos, evidenciando acúmulo acima do planejado.


“Esse acúmulo de estoques indesejados aconteceu mesmo com uma queda na produção. Isso mostra que a demanda veio mais fraca do que os empresários esperavam”, afirma Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI.


A utilização da capacidade instalada manteve-se em 70%, dois pontos percentuais abaixo do mesmo período de 2024.


Situação Financeira Apresenta Leve Melhora


Apesar do cenário de desaceleração, o levantamento mostra ligeira melhora nos indicadores financeiros. O índice de satisfação com a situação financeira subiu de 48,4 para 48,9 pontos, indicando uma leve redução na insatisfação — embora ainda abaixo da linha de 50 pontos.


O índice de lucro operacional avançou de 42,8 para 43,6 pontos, recuperando parte da perda registrada no trimestre anterior.


No entanto, o acesso ao crédito continua difícil: o indicador passou de 39,9 para 40,3 pontos, mostrando restrição no financiamento para as empresas. Já o índice de preços das matérias-primas caiu 1,8 ponto, chegando a 55,2, o que indica custos ainda altos, mas subindo em ritmo menor.


“As condições financeiras da indústria seguem majoritariamente negativas. Apesar de alguma melhora, as margens de lucro continuam muito baixas”, ressalta Azevedo.


Impostos e Juros Altos São os Maiores Obstáculos


A alta carga tributária continua sendo o principal entrave para o setor industrial, mencionada por 37,8% dos empresários. Em seguida, aparecem a demanda interna insuficiente (28,8%) e as altas taxas de juros (27,3%).


Outros fatores que dificultam o desempenho do setor são a escassez de trabalhadores qualificados (22,9%) e a concorrência desleal (19,1%).


Segundo Azevedo, as taxas de juros elevadas têm efeito direto sobre o consumo e o crédito:


“Num primeiro momento, os juros afetam bens que dependem de financiamento. Com o tempo, o impacto se espalha, reduzindo a renda das famílias, aumentando o endividamento e diminuindo o consumo. A indústria sente fortemente esse reflexo.”


Expectativas Mistas para os Próximos Meses


As perspectivas dos empresários para o final de 2025 são cautelosas, mas com algum otimismo. O índice de expectativa de exportações cresceu dois pontos, para 48,6, ainda abaixo da linha de 50, o que indica previsão de queda menos intensa nas vendas externas.


Já as expectativas de emprego e de compras de matérias-primas recuaram levemente, para 49,3 e 51 pontos, respectivamente. A expectativa de demanda interna teve pequena alta, de 52,3 para 52,5 pontos, sinalizando otimismo moderado com o consumo doméstico.


O índice de intenção de investimento também apresentou avanço, passando de 54,4 para 54,8 pontos, revertendo parte das perdas acumuladas desde o final de 2024.


Levantamento Ouviu Mais de 1,400 Empresas


A Sondagem Industrial da CNI entrevistou 1.423 empresas entre os dias 1º e 10 de outubro de 2025, sendo 592 pequenas, 494 médias e 337 grandes.


O estudo reforça que, apesar de algumas melhoras pontuais, a indústria brasileira ainda enfrenta um cenário desafiador, com demanda interna fraca, crédito restrito e altos custos operacionais.


Mesmo assim, o avanço nas intenções de investimento e nas expectativas de demanda mostra que o setor mantém esperança de recuperação gradual nos próximos meses, especialmente se houver redução dos juros e estímulo à economia.